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domingo, 17 de agosto de 2008

Quem vai ver seu velho televisor de tubo

por David , Seção: Hábitat s 01:18:40.

Faça as contas: a venda de televisores no Brasil está estável, na casa dos 10 milhões de unidades por ano; mas, dentro deste universo, a venda de televisores de tela fina - item top na lista de sonhos de consumo deste início de século - está duplicando, de 1 milhão em 2007 para 2 milhões em 2008; pode-se concluir que está havendo uma acelerada substituição de aparelhos, e que os tubos cinescópios estão sendo empurrados para fora das salas de estar.

O problema é: para onde vão esses televisores que o consumidor considera ultrapassados?

Milhares já foram para o quarto das crianças, para prejuízo da espécie humana; outros milhares foram gentilmente descartados em forma de presente para a empregada, para o porteiro do prédio, a sobrinha que foi morar com o namorado etc. Seja pelo poder de compra recém-adquirido pela classe C, seja pela generosidade conveniente das classes A e B, o fato é que dificilmente se encontra um lar sem TV no Brasil eletrificado.

Já no ano 2000, informa o IBGE, 39.060.188 domicílios contavam com pelo menos um televisor. Hoje, a oferta de aparelhos usados é tanta que não há mais escrúpulos em deixar muitos deles sob ameaça de pó e gordura em botecos e açougues, oferecendo entretenimento à freguesia.


Mais acessível, menos valorizado diante do charme e do status das telas finas, o televisor de tubo está mais perto do lixo. Na assistência técnica, já é difícil convencer os funcionários de que ainda existem problemas facilmente resolvíveis e que há salvação para aquela caixa antiga.

Os técnicos tradicionais, por outro lado, foram privados dos conhecimentos autorizados pelas grandes marcas, e suas oficinas de bairro viraram museus onde colecionadores podem encontrar legítimos Colorado RQ ou Telefunken de válvulas brilhantes. Menos mal.

Os televisores de tubo mais recentes talvez não tenham a qualidade suficiente para merecer um lugar em antiquários, e logo o Brasil pode ver com indiferença o que, nos anos 80, causava espanto: televisores nas calçadas do Japão ou dos EUA, à espera do caminhão de lixo.

Talvez isso não aconteça por aqui, embora já seja possível encontrar mais do que tubos descartados em lixeiras das grandes cidades brasileiras. O fato, porém, é que precisamos pensar a sério no descarte adequado desse material altamente tóxico, poluente e nocivo à saúde.


Uma consulta a três dos principais fabricantes (*) de televisores revelou que nenhum deles tem qualquer plano para disposição final de aparelhos velhos e seus resíduos - que incluem metais e metais pesados, cuja decomposição na natureza leva de 20 a 450 anos. A assessoria de comunicação da Eletros (associação dos fabricantes) também desconhece qualquer iniciativa neste sentido.

Uma rara ação envolvendo televisores usados foi feita em São Paulo, em 2007, por uma rede de supermercados que oferecia desconto de R$ 500 na compra de um aparelho de tela fina a quem trouxesse o seu velho TV de tubo. O desconto era balela e o televisor usado ia para instituições de assistência entreterem suas crianças carentes. Segundo a funcionária que organizou a ação, 50 televisores foram doados a 10 instituições, e "as crianças adoraram".

Não é o que se pode classificar como, digamos, a melhor solução, mas a iniciativa mostra que o assunto desperta interesse e mobiliza as pessoas.


As empresas não são obrigadas a cuidar desse lixo tecnológico. Por enquanto, só fabricantes e importadores de pilhas e baterias estão submetidos à Resolução 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que determina o gerenciamento dos produtos descartados e a disposição adequada dos resíduos finais.

Talvez o Conama possa estimular os fabricantes de televisores ou, melhor ainda, os empresários talvez possam tomar a iniciativa de cuidar deste lixo, antes que ele se avolume demais. Não se sabe quantos televisores serão descartados nos próximos anos, mas, para se ter uma idéia, o mundo jogou fora 400 milhões de computadores nos últimos três anos, segundo o Comitê pela Democratização da Informática (CDI), que trabalha com a reciclagem de componentes.

Reciclar componentes de televisores, aliás, pode ser uma solução interessante.

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